Quando se trata de relações em que não interessa ser-se desagradável, ou melhor, demasiado frontal colocam-se-nos situações embaraçosas e desnecessárias. O caso é simples:
Alguém que conhecemos, não uma pessoa chegada como um amigo ou coisa que o valha, fala-nos da namorada. Não a conhecendo nós, saca da carteira a foto tipo passe da criatura enquanto lhe tecem todo o género de elogios maravilhosos. Por fim, mostrando a foto e, mesmo que a donzela não seja um grande camafeu mas apenas não tenha gracinha nenhuma, pergunta-nos num tom de retórica:
"E é gira, não é?"
Como é que se descalça uma bota destas? Sendo um amigo que prezamos o instinto ditaria uma chamada à realidade:
"Achas que sim? Pode ter muitas qualidades, até ter um corpinho do caraças que não dá para ver na foto do L-123, mas beleza não tem muita, com certeza! Não digas isso a mais ninguém!"
Um amigo merece um tratamento de choque como este, não é agradável mas é devido, the right thing to do. Agora um mero conhecido ou colega vai ter de passar com um simples aquiescer pouco convincente, um sorriso amarelo e uma tentativa descarada de mudança de assunto.
Mas há senhores que não têm olhos? Será o amor mesmo cego ou apenas cega as pessoas? Enfim, o que tem gente feia e quem sou eu? Mas estas situações são como quem come queijo de Nisa sem admitir que tresanda a chulé. Ou pior: que afirme que lembra ao aroma de prados fresquinhos!
Hoje pus-me cá a pensar umas coisas durante a viagem no Metro. Vinha meio enlevado a observar uma senhorita balzaquiana já adiantada (não era nenhuma florzinha nem tinha ar de quem chama pela mãe, não) e notei que a idade realmente faz qualquer coisa. A minha, é da minha idade que falo.
Já dou por mim a reparar, por exemplo, em mulheres mais velhas, coisa que há uns tempos não me interessava por aí além. É claro que a beleza se manifesta independentemente da idade e nunca me passou despercebida. Mas isto é diferente, não se trata de apenas notar certos traços mas sim nutrir uma certa atracção.
Isto não se aplica só à idade, manifesta-se também às fisionomias. Quando mais putos, parece-me, temos uma imagem à qual não conseguimos fugir muito. Ou a menina corresponde minimamente ou então não serve. Agora, cada vez mais, as balizas se alargam. A idade pouco importa, e consigo concentrar-me num ou noutro pormenor que serve para fazer palpitar a imaginação e a luxúria. Uns pés através de umas sandálias reduzidas, um ombro...
Voltando o título do post, que parece despropositado, e para explicá-lo vamos lá continuar. Esta conversa toda aplica-se muito bem à alimentação. E como mamíferos que somos faz sentido, o comer e o estímulo do paladar proporciona-nos também prazer.
Vejamos como o nosso paladar evolui com a idade. Na garotice não há miúdo que, se pudesse, não se alimentasse só de bifes com batatas fritas, frango assado e hambúrgueres do McDonalds. São como as meninas lourinhas, angelicais, de bochechas rosadas do ciclo... Mais tarde o panorama não muda muito em termos de alimentação, já as raparigas começam a ter que corresponder a critérios mais rigorosos, as formas têm de ser imaculadas.
Só quando adultos o nosso paladar se encontra desenvolvido, aprecia-se todo o tipo de sabores, cerveja, peixe cozido, sopa nabiças, arroz de grelos, iscas à portuguesa, etc... tudo e mais alguma coisa.
Eu vejo-me já nessa fase quando hoje vinha a apreciar a tal balzaquiana com uma boina, pinta de Michelle of the Resistance. Acho que era um prato de ovas grelhadas com molho de coentros.