Tenho tido sérias dificuldades em levar coisas até ao fim ultimamente. Coisas pequenas, até. Facto que se tem manifestado numa prometida limpeza doméstica de uma profundidade maior e prometida que não passa do WC. Ou nos livros começo, uns depois dos outros, sem terminar um que seja, vão ficando abertos ou marcados a meio até que me dê na veneta terminá-los ou devolvê-los à estante. Destes últimos talvez só uma confissão tardia de inocência, posterior ao cumprimento da pena, se tenha visto lida num relâmpago...
E outras coisas inacabadas, coisas que não quero descortinar...
E o que me deu na telha agora? Pois bem, deu-me começar a ler os Lusíadas! Ao abrir o pequeno volume vermelho que me serviu na escola constatei que apenas as três primeiras oitavas do Canto Primeiro estavam anotadas. É verdade, acho que não li nada desta porcaria no secundário. Depois dos punhetos sonetos do Senhor Zarolho (antonomásia- tal como nas anotações feitas a lápis junto do “...sábio Grego e do Troiano...”) nos anos anteriores como arranjar paciência para este supra-sumo da flatulência de “tuba canora e belicosa”? Não sei, nem consegui.
Também não sei como fui capaz de ter boas notas a Português... Poder-se-ia pensar que, para cair nas boas graças, prestasse algum tipo de favores sexuais à professora quarentona, pois do programa de leituras do secundário não li a ponta de um chavelho! Ah! Gostei de um conto ou outro do Miguel Torga que me apareceram soltos e desamparados, talvez apenas por isso, por serem coisas soltas. Cesário Verde com O Sentimento de Um Ocidental. Alguns poemas do Pessoa em Caeiro ou Álvaro de Campos (Lembras-te Shiz? Afinal não tinha saído da escola há assim tanto tempo) pelas mesmas razões. Gosto por estes últimos que vim a desenvolver mais tarde e mais incondicionalmente, mas não totalmente. Agora, dos Livros fugi a todos sem excepção!
Abominei a Mensagem, nem o comprei! A Aparição? Ui! Outro! Ainda encetei o Frei Luís de Sousa porque talvez viesse no exame (facto que se consumou e do qual me desenvencilhei bastante bem), mas quinze linhas, no máximo... Dos Maias estava a gostar, mas a edição era bera e começou a desintegrar-se a meio. E como era um bocado grandote para a altura ficou por ler e aos pedaços. Chamemos-lhe fascículos, olha! Vim a lê-lo integralmente mais tarde, porém.
Pergunto-me agora ainda mais como consegui terminar com quinze valores, uma das melhores notas da turma. E já disse que não me fiz valer de servicinhos de qualquer natureza nem cabulei! Apanhei umas coisas do ar, sei lá. Deve ter sido como o dezoito a Francês...
A edição da Epopeia Portuga que aqui tenho já soma uns anitos, diz que é de 1972 e vem pejada de notas e notinhas. Tem até conselhos para uma leitura expressiva de José António Moniz (Arte de Dizer, 1903). Tem igualmente um questionário “...belamente ilustrado pela nossa Ex.ma colega Senhora D. Helena Abreu”. É divertido! Tem uma fitinha vermelha e outra azul.
Vamos ver até onde isto vai...PS: Com isto tudo acabei por só ler mais meia dúzia de oitavas.